É com saudade...

Saudade é um sentimento para ser sentido e não esquecido...
Recordo-me das despedidas que já passei na vida...algumas com esperanças de reencontro, outras com uma ligeira impressão que seria o ultimo abraço...
Sinto saudade da minha infância, saudade da escola na pré-adolescência...sinto saudade dos cometas que passaram na minha vida...dos rastros bons que deixaram...sinto saudade dos ruins também...
Sinto saudade de quando meu pai me pegava no colo e fazia voz infantil pra me dengar...as vezes ainda o faz, mas hoje parece engraçado pra quem ver por fora...sinto saudade de quando minha mãe me levava pra igreja e me ensinava fazer o sinal da cruz...sinto saudade de fazer carinho das costas de minha irmã pra ela dormir...e de sair de bicicleta com meu irmão pra ele me mostrar a nova namorada dele...sinto saudade de quando Léo saia correndo na rua parecendo um cachorro que tava preso...sinto saudade da vez que saí pra passear de bicicleta com Pedrinho e atravessamos a ponte perigosa sem avisar aos nossos pais...sinto saudade de sair na chuva com Heloíse e levantar a barra da calça pensando que estávamos na novela Terra Nostra...
Sinto saudade de sair as quartas-feiras com meus colegas de sala para tomar sorvete no ônibus...sinto saudade de andar de patins...
Me recordo com muita saudade de quando saia pra dançar com minhas primas...de fazer coreografias com Lenaura...
Morro de saudade do “Novembro em sampa”...tudo que vivi, tudo que criei...todos que conheci...sinto saudade de chorar de saudade, apesar de ter o feito há pouco tempo...
Sinto saudade dos que estão ali do lado, que por algum motivo não os vejo...de sentar pra conversar e brigar...sinto saudade do “or”...
Saudade dos que já se foram...dos que moram longe e não tenho contato...dos que moram longe e falo todos os dias...dos que moram longe e não pretendem mais voltar...dos que moram longe e que se pudessem estavam aqui...
Sinto saudade da minha ultima saudade, da maior saudade do momento...da blusa molhada de lágrima..das músicas na ladeira da Penha...do cheiro de ansiedade...da cor das imagens...do cheiro de maçã com canela que carrego comigo...da origem desse cheiro...dos sotaques...do “oxi” mineiro...do “oxi” paulista...do “oxi” capixaba...do “oxi” carioca...das risadas...do abraço inicial...do carinho final...do cuidado...de conversar enquanto eu dormia...do sal...do vento abafado...do calor insuportável...de olhar o mar da varanda...de olhar os prédios da varanda...da risada alta...do sorriso desconsertante...das músicas no carro...da bateria invisível...Sinto saudade de olhar a cachoeira...de partilhar a natureza...de pular da pedra...
E o que mais que conforta nisso tudo é que em volta dessas saudades existe um sentimento maior que a cerca...Sinto amor em tudo que foi citado...porém não sinto saudade do amor...é verdade que o amor é eterno...que o amor eterniza...que o amor mora na saudade, mas que o amor faz a saudade valer a pena.
Todos esses momentos foram eternizados em imagens...pixels ou papéis que um dia se apagam ou apodrecem, mas imagens eternas foram criadas no infinito da memória que nunca se destrói...
Certo dia um amigo me disse que o amor é um comportamento...e isso tudo virou amor quando se tornou uma atitude...tudo isso é amor.
Afirmo que o amor é uma dádiva...é um dom gratuito...
É o que me faz pensar que a vida vale a pena e é maravilhosa...
É o que me faz sentir saudade!
É o que me faz sentir amor!
É o que me faz sentir...